quinta-feira, 8 de março de 2012

NOITE ESCURA


Há momentos em que você pensa em desistir, jogar tudo pra o ar, esquecer-se de tudo o que viveu, passando a acreditar que sua felicidade não foi construída em chão sólido, mas sobre a areia. A sensação é de que um simples jorrar d’água fará com que tudo se afunde!
Nesses momentos, um sorriso não basta e uma história impressionante não te satisfaz. Você busca por testemunhos e por experiências de vida que sejam impactantes o suficiente para talvez te impulsionar. Tudo o que é dor e corte permanece exposto, não cicatrizou. Você procura por lugares para onde fugir.
Vai dizer São João da Cruz, que este momento se chama: “Noite escura da alma”.
“É o momento em que a alma passeia pela escuridão. Significa a ausência de tudo, são trevas, caos, onde nos sentimos sozinhos, confusos, e o que é pior, nos sentimos abandonados por Deus. É a fase em que enxergamos somente as derrotas.” (Márcia A Bezerra)
É um período de provação, tempo sofrido. Segundo São João da Cruz, a noite escura consiste na mortificação dos sentidos e do espírito, por isso que produz abatimento, esgotamento mental e fadiga. Porém, esse processo é o que dá origem ao homem novo!
Muitas de nossas crises emocionais ou qualquer que seja a situação de dor são causadas por nossa falta de fé. Exigimos sempre provas concretas de que estamos certos, meios que fortaleçam a nossa fé. É aí que percebemos o quanto somos como Tomé: precisamos ver! Queremos uma mudança, um exemplo, um manifesto radical, algo que comprove que estamos corretos.
Já é de se esperar que passemos por tais momentos em tempo de Quaresma.
Quaresma exige conversão e renúncia. É tempo propício para morrermos pra nós mesmos. Jesus nos ensina que antes de segui-lo devemos nos renunciar. Renunciar-nos é o mesmo que morrer para o nosso querer e querer somente o que seja da vontade de Deus. Tarefa difícil!
De fato, não existe nenhum outro lugar onde possamos encontrar a Deus que não seja aquele onde encontramos a nós mesmos. Essa é uma verdade que se aplica tanto aos santos, como São João da Cruz, quanto a cada um de nós, que vivencia contradições, crises e incredulidades, mas que possui o direito de vencer e alcançar a graça da santidade.
“Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Diziam-lhe, pois, ou outros discípulos: Vimos o Senhor. Ele, porém, lhes respondeu: Se eu não vir o sinal dos cravos nas mãos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei. Oito dias depois estavam os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente.Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor, e Meu Deus! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” (João 20, 24-29)
Mesmo quando Tomé duvidou, diante de sua incredulidade, Jesus se apresentou a ele e pediu que o tocasse para então crer. Isso é o que o Cristo faz conosco todos os dias quando na Santa Missa nos permite comungar de seu próprio Corpo e sentir tamanho amor.
Ainda que deixemos que nossa falta de fé nos invada e que nossos problemas pareçam maiores, Deus se aproxima! Nossa Majestade se ausenta de seu palácio e visita nosso coração.
Que nossas noites escuras sejam observadas como possibilidade de verdadeiro crescimento. Que saibamos vencer nossas crises e vivenciar provações na certeza de que não estamos sozinhos. Não sejamos incrédulos.
É Tempo de conversão.

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