terça-feira, 22 de janeiro de 2013


Cena 1 – A projeção de nós mesmos

— Eu perco muito tempo da minha vida sem você.
— Eu estou contigo todo o tempo.
— Não o tempo todo.
— Você inventa qualquer compromisso e me leva junto. Só pra não estar comigo.
— Você não me acompanha. Está ao meu lado e não se interessa.
— Eu ouço tudo o que você diz.
— Eu sei.
— É isso que te preocupa?
— Você não tem o meu gosto. Não olha como olho.
— Tenho os meus olhos para ver. Não os teus para julgar.
— Queria que você fosse diferente.
— Você esperava que eu fosse você.

Cena 2 – A projeção da nossa culpa

— Você quer.
— Não posso.
—Mas quer.
— Quero. Mas não vou.
— É tudo o que você quer nesse momento.
— Mas também é tudo o que eu não quero pra depois.
— É tão ruim assim?
— Preciso ser melhor que isso.
— Você é o que você é.
— Mas não o que quero ser.
— Desejas ser outra coisa?
— Alguma coisa bem melhor do que sou hoje.
— Mas você disse que queria.
— Quero. Mas preciso querer algo melhor.
— Ser alguém melhor?
— Alguém que acerta mais.
— Isso tá errado.
— Por isso. Quero ser alguém que não erra nunca.

Cena 3 – A projeção da nossa maldade

— Você me machuca.
— Eu sei. Não consigo fazer de outra maneira.
— Tudo o que você sabe é fazer pra me afastar.
— É aí que te equivocas. Faço tudo pra saber o quanto gosto de você.
— Onde está o carinho?
— Guardo todo pra mim.
— Quando eu vou embora?
— Quando você volta.
— É muito egoísmo.
— Todo amor é uma forma orgulhosa de maldade.
— Então me machuca do jeito certo.
— Não seja egoísta, mulher. Pensa um pouco em mim.
— Eu te odeio.
— É por isso que você sempre volta pra mim.